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Redes Sociais: benção ou maldição

Redes Sociais

O que você acha das Redes Sociais?

Nesse final de semana assisti com a minha esposa, um documentário do Netflix chamado “O dilema das redes” ou em inglês, “Social Dilemma”. Este documentário aborda as diversas mudanças que a sociedade vem sentindo por conta da criação e evolução das redes sociais e ao assistir, surgiram muitas reflexões, como por exemplo: as redes sociais são uma espécie de Skynet, ou seja, algo que veio para acabar com a humanidade ou elas vieram para trazer benefícios e inovações que podem ajudar muito nosso desenvolvimento?

Antes de começarmos, faço uma pergunta “O carro é uma benção ou uma maldição”? O carro foi uma inovação que mudou a vida de todo mundo. Mudou a forma como nos locomovemos, mudou o comércio, a indústria e foi realmente uma disrupção absurda, concordam?

Porém, sabemos que o carro também mata 5 pessoas a cada minuto. Mais de 1,35 milhões de pessoas morrem por acidentes de trânsito todo ano e esse número só aumenta. O uso de combustíveis fósseis faz com que a camada de ozônio, ano após ano, esteja menor, causando o efeito estufa que traz mudanças climáticas com consequências como furacões, incêndios, derretimento das camadas polares.

O carro também pode ser usado para roubos, sequestros, tráfico de drogas, entre outros. A lista da má utilização é infinita e poderíamos continuar listando aqui, mas o que peço para que vocês reflitam é o seguinte: O problema realmente é o carro? Seria melhor se ele não tivesse sido inventado?

Os benefícios das Redes Sociais

As redes sociais, como Orkut, Facebook, Instagram, Youtube, Tiktok, nasceram de uma necessidade humana de interagir, integrar, estar em conformidade social e fazer parte de uma comunidade. Necessidades que fizeram com que evoluíssemos ao longo dos anos para vivermos em sociedade.

Elas trouxeram a possibilidade de unir pessoas que não se viam há anos; de compartilhar momentos, como o nascimento de um neto que mora do outro lado do mundo; a possibilidade de se fomentar diálogos sobre os mais diversos assuntos que vão desde geopolítica até o campeonato de futebol local.

Deram também um novo olhar sobre as paisagens e momentos que cada pessoa gostaria de compartilhar. Suas viagens, seus romances, suas celebrações, mas também suas perdas, suas dores, e ter o alívio de um abraço mesmo que virtual, de alguém que se importa com você.

Mas não foi só isso, as redes sociais trouxeram a possibilidade do compartilhamento de conhecimento, de aprendizado. Juntar pessoas que têm informações complementares e criar uma espécie de “mastermind”, onde o conteúdo daquele determinado grupo se torna fundamentalmente relevante e as pessoas se ajudam a cada dia.

Os celulares, smartphones e tablets evoluíram para que cada um de nós pudéssemos ter isso na ponta dos dedos. E a tecnologia, com seus saltos exponenciais, veio para tornar essa mudança cada vez mais rápida. Telecomunicação, análise de dados, inteligência artificial, tudo isso ao mesmo tempo tornou as redes sociais o novo carro, algo que veio para mudar as nossas vidas de forma totalmente disruptiva.

Estamos Preparados para Isso?

Mas, será que estamos realmente preparados para tudo isso? Quais os principais impactos que surgiram por conta das redes sociais?

Falta de foco

Um dos primeiros fatores percebidos foi que as pessoas estavam mais dispersas, ou melhor, estavam mais focadas, mas não no que estava acontecendo com elas naquele momento e sim o que estava acontecendo no meio virtual.

Após o advento das redes sociais o tempo médio de foco contínuo de uma pessoa em uma atividade de trabalho é cerca de 59 segundos, ou seja, a cada minuto a pessoa perde o foco porque é distraída por uma notificação, que pode ser um novo post, uma mensagem da rede ou um novo vídeo disponível.

Solidão

Por mais que as pessoas tenham amigos nas redes sociais, o convívio social diminuiu muito e as pessoas se sentem mais solitárias e infelizes do que em qualquer momento anterior da história.

Desequilíbrio emocional

As pessoas estão muito mais suscetíveis a sofrer de um distúrbio emocional por conta do que leem e veem nas redes sociais. Em alguns casos, esse tipo de desequilíbrio pode levar a crises de ansiedade, depressão e até ao suicídio ou atos de violência com outras pessoas.

Hoje em dia é comum ouvirmos histórias de alguém que foi rejeitado ou que sofreu algum tipo de bullying na rede social buscando vingança ou acabando com a própria vida. Mas isso sempre existiu. Quando era mais novo, costumava ser alvo de brincadeiras porque tinha orelha de abano e porque meu sobrenome é Brochado. Mas o universo de pessoas que costumavam implicar comigo, era de no máximo 10 pessoas e com o tempo aprendi a lidar com isso.

Hoje um conteúdo pode viralizar e ser visualizado e comentado por todo o mundo, podendo chegar a milhões de comentários agressivos, contundentes e falsos. Como você acha que isso entra na cabeça de um adolescente, cujo corpo está em constante mudança, sendo bombardeado por hormônios que modificam seu humor, agressividade e níveis de estresse entre outros.

De 2010 em diante, quando as redes sociais chegaram aos smartphones, as taxas de adolescentes que adquiriram algum tipo de doença ligada a parte psicológica como ansiedade, síndrome do pânico e depressão praticamente triplicou.

Fake news

Atualmente estamos lidando com uma grande onda de Fake News. Informações falsas que podem ser tão fantasiosas quanto a ideia de que o termômetro de infravermelho tem a capacidade de ler as nossas mentes e jogar na internet.

Vou dar dois exemplos reais de como uma informação falsa pode mudar a vida de uma pessoa em definitivo:

  • Um ex-namorado que não aceitou o fim do relacionamento, compartilha uma montagem com uma foto da ex-namorada dizendo que ela é sequestradora de crianças. A montagem viraliza entre grupos de mensagens e redes sociais. Um dia, enquanto passeia tranquilamente na rua, as pessoas que receberam a montagem a reconhecem e começam a acusá-la e ela é linchada até a morte.
  • Uma pessoa de má fé faz um post em uma rede social dizendo que um professor abusou de sua filha. O post viraliza, chega ao conhecimento das autoridades e o professor é preso. Por conta da gravidade do crime de abuso infantil, ele pode ser preso mesmo sem provas e ficar até ser julgado. Enquanto isso, o linchamento virtual continua e no mundo real, sua família é ameaçada, sua carreira destruída. Depois de um tempo, que pode levar anos, ele finalmente consegue ser ouvido e provar sua inocência de que não aconteceu nenhum ato ilícito. Mesmo com sua inocência comprovada, nenhuma escola, que acompanhou o caso, quer empregá-lo e ele fica sem condições de manter a sua família. A pessoa que o acusou não sofreu nenhuma consequência.

Manipulação de Massa

As redes sociais são capazes de movimentar massas, manipulando opiniões e usando a inteligência dos algoritmos a favor de quem sabe utilizá-los para que os conteúdos que eles querem seja apresentado a quem estiver navegando. Além claro, da grande massa de dados gerada através do conhecimento dos perfis de usuários, preferências, buscas, compras que são usadas para apresentar exatamente aquilo que você está procurando, ou que você acha que está procurando, enquanto era manipulado inconscientemente pelo algoritmo.

Teoria da Conspiração

Teoria da conspiração? Sim, um pouco. Mas nada do que falei aqui é mentira. O fato é que não há uma curadoria sobre o conteúdo apresentado. A inteligência artificial por trás dos algoritmos é focada muito mais no crescimento do negócio do que em avaliar se aquele determinado conteúdo é “saudável” a quem está consumindo.

Por mais que a Inteligência Artificial esteja cada vez mais evoluída, ela funciona, neste sentido, bem próxima ao que a gente pensa. Quando você vê uma informação, você usa as suas experiências para definir se vai ou não acreditar no que está sendo dito. Se você não tiver certeza, você vai procurar fontes que possam ter argumentos que te ajudem a tomar essa decisão.

A Inteligência artificial vai fazer o mesmo, com o diferencial que ela vai ser muito mais rápida e em muito mais fontes, mas se ela encontrar mais fontes fakes dizendo que o Bill Gates falou que as vacinas vão implantar nano robôs no nosso corpo, existe uma chance de que ela entenda que essa informação é verdadeira.

Então qual a solução?

Antes de dar a minha opinião, gostaria de contextualizar algumas coisas.

Cada uma dessas redes sociais são uma empresa, com ações na bolsa e tem como um dos objetivos aumentar seu valor de mercado, lucros e resultados. Mas qual o principal modelo de negócio dessas redes sociais? Clique e visualizações de anúncios, de conteúdos patrocinados. Em outras palavras, quanto mais tempo você navega dentro da rede ou clica em vídeos, imagens, propagandas que foram pagas, mais estes anunciantes ganham.

Acabar com as redes sociais?

Ah, então a solução para isso é simples, é só acabar com elas, certo? E quando aparecerem outras? Ou você acha que o jornal, a televisão, ou qualquer outra forma de mídia, não são capazes de fazer os mesmos efeitos?

A curadoria do conteúdo seria uma solução simples mas ainda não temos a capacidade humana e nem de máquina de ser 100% assertivo em relação aos conteúdos apresentados.

As redes sociais, diferentemente de um jornal ou uma revista (que apresentam o mesmo conteúdo para todos os leitores), adaptam às características do perfil do usuário. Isto pode até ser considerado um grande benefício, para apresentar conteúdos relevantes, mas que também pode ser usado para manipulação.

Então curadoria também não é a solução, mas o que é então?

Bem aqui vou dar a minha opinião, voltando a primeira história que eu contei, do carro. Você acha que o problema está nas montadoras, nos carros ou nas pessoas que estão dirigindo?

Eu entendo a situação das redes sociais de forma bem parecida. Podemos melhorar os algoritmos das redes sociais, trabalhar com leis mais fortes em relação ao uso de dados, ao conteúdo apresentado, fake news, isso tudo com certeza vai ajudar bastante, mas precisamos também trabalhar as pessoas.

Psicologicamente Despreparados

Existe algo que para mim é mais básico e que não está relacionado às redes sociais e só se potencializou por conta delas. Nós estamos cada vez mais despreparados psicologicamente para as mudanças que vêm acontecendo com o mundo.

As crianças estão cada vez mais dispersas por conta da tecnologia, mais irritadas pela quantidade de estímulos, mais suscetíveis a mudanças emocionais por conta de como são vistas pelos demais, inclusive dentro do meio virtual.

Uma criança que tenta fazer um amigo virtual em um jogo, que a princípio é totalmente inocente, e é rejeitada e pode ter um impacto que vai se propagar na vida inteira dela, moldando a forma como ela se comporta.

E gente, o carro não vai voltar atrás; a internet não vai voltar atrás; as mídias sociais e inovações não irão voltar atrás. Não adianta simplesmente tentar mudar as coisas pelo prisma de quem não viveu essa mudança.

Eu não posso achar que o que funcionou para mim quando criança vai funcionar para os meus filhos. Temos que aceitar e abraçar as mudanças, elas não foram e não serão as últimas.

Acompanhar e Fortalecer

Temos que acompanhar de perto e fortalecer a mentalidade das crianças, para que se tornem adultos resilientes e capazes de distinguir o que querem absorver do que não vale a pena.

Na minha opinião, a escola também pode ter um papel fundamental, instruindo as crianças, não apenas em como utilizar as novas tecnologias, mas também como lidar com as informações e críticas. Trabalhando o lado psicológico em conjunto com os pais, que estariam reforçando essa mentalidade em casa. Não é simples nem fácil, mas é algo que deve ser trabalhado desde pequeno.

Mas e a geração adulta?

Essa geração precisa se reconectar com o mundo de verdade e ser mais humana. Sair do mundo online e ficar mais offline. Usar a internet e as redes sociais a seu favor, para se desenvolver, socializar, compartilhar bons momentos. Agradecer, trocar experiências positivas e ajudar uns aos outros, como uma comunidade.

E se você me perguntasse por onde eu começaria, minha resposta sem dúvida seria: em mim, em você e em todas as pessoas.

Fica aqui a reflexão, espero que vocês tenham gostado….

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