Durante uma sessão de feedback, costumo sempre conversar sobre a carreira da pessoa, como por exemplo: o que ela tem em vista para o futuro e como pretende chegar lá. Costumo sempre estimular que a pessoa seja flexível porque tudo pode mudar de uma hora para outra.
Quando chegamos neste tema, uma das pessoas com quem conversei deu uma travada e comentou que não sabia se estava na carreira certa.
Isso é mais comum do que você imagina. Eu não trabalho com transição de carreira, mas tenho colegas que trabalham e vejo casos de pessoas que depois de alguns anos trabalhando, descobriram que não era o que elas imaginavam.
Fui tentar entender um pouco mais sobre o que tinha feito essa pessoa sentir que não estava na carreira certa. E existia toda uma história por trás disso, que vinha de uma primeira transição e principalmente da dificuldade que ela estava tendo nesse momento em evoluir.
Imagine que você começou uma carreira de arquiteto, as pessoas conheciam o seu trabalho e você estava indo muito bem. De repente, você faz uma transição para analista de sistemas. É claro que as suas experiências anteriores não vão ser perdidas, mas você não terá tanta maturidade e fluidez do seu trabalho quanto tinha antes, é um novo começo e ninguém começa algo novo já expert.
Mesmo os mais experts na área de tecnologia, quando precisam lidar com uma metodologia, tecnologia, ferramenta ou prática nova, possuem uma curva de aprendizado e adaptação.
No caso da pessoa com quem conversei, ainda não era ainda o momento de decidir mudar de carreira. Porém essa conversa foi muito rica de aprendizado e me trouxe alguns pontos que eu gostaria compartilhar para que você consiga planejar a sua carreira.
Cuidado com a rotina
Muitas vezes acabamos criando uma rotina de trabalho em conjunto com a nossa vida pessoal que praticamente toma todo o nosso tempo. E não ter tempo livre vai te impedir de ser flexível, inclusive para evoluir sua carreira.
Se você acorda, toma café, trabalha, almoça, volta para o trabalho, termina o expediente, faz exercício (em alguns casos nem isso), janta, fica um tempo com as crianças (ou seu animal de estimação), assiste uma serie de netflix ou um filme, dorme e no dia seguinte, faz praticamente a mesma coisa, cuidado! Sua rotina pode estar criando um hábito que depois pode se tornar difícil de mudar.
Se você não tem um tempo para autoconhecimento e autodesenvolvimento, mesmo que seja semanal ou mensal, reveja a sua rotina! Estagnar é a pior coisa que pode acontecer na sua carreira.
Eu não sei para onde quero/posso ir
O segundo ponto tem relação com o primeiro, que é quando você não sabe para onde quer ou pode ir. E aqui eu vou dividir em duas partes.
Autoconhecimento
A primeira parte está relacionada ao autoconhecimento. Muitas pessoas não sabem o que querem porque não se conhecem, não entendem o que as motiva ou o que dá prazer. Elas trabalham de forma mecânica, como se o trabalho fosse apenas a venda de horas por um valor.
E isso é fruto da falta de tempo exclusivamente dedicado a conhecer o que te faz feliz e o que você não gosta de fazer.
Já vi muitas pessoas saindo de uma empresa e indo para outra, e chegar à mesma conclusão. Não sentia prazer no que fazia e em consequência não estava gostando da nova empresa.
Quando você troca de área, empresa ou carreira, sem saber o que você procura, você está sujeito a qualquer resultado. A chance de ele ser diferente do que te motiva e te faz feliz é muito maior, já que você não está efetivamente buscando por isso.
Se você até hoje não separou um tempo para pensar sobre isso, não tem problema, comece agora! Pegue um bloco de notas e comece a escrever o que você gosta de fazer, o que você não gosta de fazer, e veja as similaridades. Você vai começar a entender o seu perfil e na hora de buscar uma mudança, isso será claro para você.
Autodesenvolvimento
A segunda parte não está relacionada a pessoa e sim a carreira. Existem muitas carreiras que possuem diversas ramificações. A área de tecnologia é uma delas. Você pode navegar por milhares de ramos até chegar a um ponto especializado.
Isso pode ser um dificultador. Como posso escolher seguir por um caminho se eu nem sequer sei que ele existe ou o que realmente se faz naquele caminho?
Aqui não tem mágica, não importa a sua profissão. Para que você tenha uma visibilidade você precisa se mantenha atualizado, mesmo que de forma macro, o que tem mais destaque na sua área.
É claro que isso não vai determinar a sua mudança, mas vai te dar um norte se em algum momento você precisar se aprofundar.
Por exemplo, você pode saber conceitualmente que existe Inteligência Artificial e Machine Learning, mas não sabe exatamente quais são as atribuições de um cientista de dados ou engenheiro de dados. Mas se você precisar se aprofundar, pelo menos entende se tem alguma aderência ao que você está buscando.
Eu não estou preparado para o caminho que quero seguir
O terceiro ponto é um dos que eu mais ouço e um dos mais importantes. Se você estiver fazendo uma transição de carreira, é natural que você não esteja 100% preparado. Pense que você está mudando de área, de função e de profissão.
Mesmo que você não comece do zero, eventualmente terão mais coisas que você desconhece do que coisas que você conhece.
Aceite e evolua! Mapeie o que você precisa aprender e faça um roadmap, sempre verificando como está a sua evolução. Esse é o caminho mais fácil para essa mudança.
Existe alguns casos que não existe uma transição. As vezes aparece uma chance de evoluir, dentro da própria área ou empresa, e a pessoa se sente despreparada. E muitas vezes realmente está! É aqui que o seu perfil vai fazer total diferença.
Se você é uma pessoa autodidata, autônoma, determinada, que vai se dedicar e tem disciplina, aceite o desafio e evolua enquanto atua. A sua curva, pela sua disciplina, será menor e em pouco tempo estará adaptada a nova atuação.
Agora, se por outro lado você não se sente segura, e quer conhecer todos os detalhes antes de decidir, talvez dar esse passo vai te deixar em uma situação tão grande de desconforto que vai drenar sua energia e sua motivação. O ideal é traçar uma rota de ação e atuar no aprendizado ANTES que você busque uma nova oportunidade ou que ela apareça. Não adianta mudar se você não se sente bem com incerteza.
A empresa não me dá suporte!
Adoraria dizer que todas as empresas estão olhando para carreira dos seus funcionários e pensando em como eles podem evoluir para se tornarem melhores profissionais, mas a verdade é que a maioria das empresas é míope para pessoas.
Isso não quer dizer que elas vão tratar mal ou serem abusivas. Isso acontece porque elas acreditam que a única motivação de uma pessoa é a financeira. Quando elas pensam em evolução, elas simplesmente estão pensando em quanto mais você vai ter no seu salário.
Este pensamento não é exclusivo das empresas. Existem pessoas que também acham que as únicas coisas que motivam são os aumentos salariais. E depois de dois meses de euforia e voltam a se sentir desmotivadas e com falta de propósito.
Aprender, ensinar, crescer, se percebido é algo que ajuda na automotivação. É algo que dá prazer! Sabe o que acontece no final? Vem o reconhecimento, que não necessariamente é um aumento salarial, mas é algo que te faz sentir realizado.
A carreira é sua!
Essa semana está fazendo um ano que meu pai faleceu. Ele gostava muito de conversar comigo sobre o trabalho e me passava várias experiências e como lidava com algumas situações. Praticamente, meu coach.
Tinha uma frase que ele sempre falava e eu costumo repetir nos episódios que tem relação com carreira:
“A carreira não é minha, não é da empresa. A carreira é sua!”.
Isso quer dizer que o único responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da sua carreira, é você.
Você deve planejar e executar a sua evolução. Você deve estar pronto para dar o próximo passo, e ter a visão desse passo e do que vai te deixar realizado.
Não transfira essa parte tão importante da sua vida para empresa ou para o seu gestor.
Não delegue para outra pessoa que não seja você.
Acima de tudo, entenda que não importa se é a carreira certa ou errada, a opção de mudar sempre será sua.
E eu termino esse artigo perguntando “Você já planejou sua carreira?”.