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Você sabe o que é Comunicação Não-Violenta?

O que é Comunicação Não-Violenta e como ela surgiu?

 

Por volta dos anos 60, o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg trabalhou como orientador educacional em instituições que buscava eliminar a segregação racial. Os Estados Unidos se encontravam no auge do movimento a favor dos direitos civis e contra a segregação.

Marshall tinha vivido momentos difíceis durante a sua infância, quando morava em Detroit, e durante um conflito precisou ficar preso em sua casa com sua família. Todo esse medo acabou se tornando uma alavanca para que ele se tornasse o agente de mudanças nesse contexto.

Ao se formar, ele passou a pesquisar sobre questões humanas e fatores que prejudicam a compaixão, o sentimento de piedade e a empatia. Descobriu que nesse cenário, a comunicação tinha papel fundamental em permitir melhorar a conexão entre as pessoas, principalmente em situações delicadas e conflituosas.

Apesar de Marshall trabalhar com o conceito da comunicação não-violenta há muitos anos, foi em 1999, quando ele lançou o livro com o mesmo título, que ela se tornou mundialmente conhecida.

Empresas como a Microsoft chegaram a comprar cópias dos livros para distribuir entre os seus principais líderes, para que estes pudessem trabalhar na formação de um ambiente seguro e de empatia.

Definição

Em seu livro, Marshall define a Comunicação Não-Violenta como:

 “A Comunicação Não Violenta se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. […] Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. – Marshall B. Rosenberg”

Hoje ela é vista como uma prática, um processo de comunicação e entendimento mútuo que ajuda a criar relações com maior conexão e empatia, permitindo entender e focando melhor no que ajuda a criar e manter bons relacionamentos.

A Comunicação Não-Violenta é um processo de mão dupla que diz respeito ao emissor, que está compartilhando alguma mensagem, quanto ao receptor que recebe esta mensagem.

E aqui Marshall parte de uma premissa que toda mensagem tem um objetivo, uma reivindicação, mesmo que a forma como a emitimos seja ofensiva, julgadora ou agressiva.

Exemplos

“Filho, mais uma vez você deixou a luz acesa. Já te falei mil vezes que é para apagar”

É claro que existe uma mensagem implícita que talvez não esteja de forma consciente para a criança, demonstrando a importância que existe no ato.

“João, não tem um dia que eu não precise vir aqui pra te chamar atenção, você não entrega nada direito”.

Estas frases ainda são ouvidas, por mais que a gente esteja caminhando cada vez mais para ambientes de trabalho psicologicamente saudáveis. E no fundo ela apenas foca no problema, sem trazer a consciência o que se espera e sem entender o lado do receptor da mensagem. 

Como a Comunicação Não-Violenta funciona ?

A Comunicação Não-Violenta foca em trabalhar na reformulação dessa mensagem, onde as nossas palavras deixarão de ser reações repetitivas e automáticas, passando a expressar de maneira conscientemente, clara e honesta, o que estamos percebendo, sentindo e desejando.

Para que ela funcione é fundamental que haja ausência de julgamento, transparência, clareza no que se pensa e no que se sente e principalmente do que se espera do outro.

É mais do que simplesmente uma nova forma de falar e sim uma nova forma de pensar, de agir, de refletir sobre a nossa capacidade humana de ter empatia e enxergar as relações.

A Comunicação não-violenta é muito utilizada para:

  • Resolução e mediação de conflitos;
  • Promover a empatia;
  • Construir ambientes saudáveis, seja em casa ou no trabalho;
  • Gerir de forma acolhedora e humanizada as equipes;
  • Fortalecer a cultura da parceria
  • Reduzir a tão conhecida cultura do medo,

São muitos os benefícios da Comunicação Não-Violenta e para que ela possa ser aplicada, Marshall identificou 4 etapas fundamentais: 

Observação

A primeira etapa para trazer consciência é observar o que está acontecendo, sem julgar, especular ou interpretar de acordo com as suas crenças e vivências. Entender a situação do outro sem adotar uma postura defensiva ou julgadora.

É ter uma visão do fato, independente de percepções individuais ou interpretações do que a pessoa quis dizer ou fazer com suas atitudes, evitando conclusões que não refletem a realidade. 

Sentimento

A segunda etapa diz respeito a entender como você se sente em relação aos fatos que está observando. Trazendo a consciência para que você consiga identificar e expressar de forma clara o que você sentiu nessa situação.

Aqui saímos do campo do racional para entrar no emocional, gerando uma conexão de empatia. Um cuidado importante aqui é que se use o sentimento e não uma avaliação.

Por exemplo:

– “Eu me sinto ignorado”.

De fato, isso não é um sentimento. É sua avaliação.

Mas o que ser ignorado te causa? Tristeza, raiva, medo? Esses sim são os sentimentos encadeados. 

Necessidades

Depois de refletir sobre os fatos e que sentimentos eles te causam, chegou a hora de passar para o terceiro passo e deixar claro qual a necessidade que não foi atendida e que gerou esse sentimento.

E aqui cabem mais algumas reflexões para te trazer consciência. Qual é realmente seu objetivo? O que de fato você espera? Por que realmente você precisa disso? O que você quer alcançar? Para conseguir isso, eu vou de encontro com os valores do outro?

Não adianta ter uma necessidade onde a relevância não é clara o suficiente ou então que vá de encontro com os valores da outra pessoa, que fira os seus princípios ou que machuque alguém.

Aqui pessoal, uma dica extra, seja vulnerável. Às vezes a gente esconde o que realmente sente, o que a gente espera e no final acaba guardando uma mágoa que poderia não existir se a gente deixasse o ego de lado e demonstrasse mais o que esperamos.

Por exemplo: “eu estou triste porque você não lavou a louça”, tem uma relevância, mas “Eu estou triste porque quando chego em casa estou cansada e gostaria de poder passar mais tempo com vocês e descansar ao invés de lavar a louça“, tem uma relevância muito maior, não acham? 

Pedidos

E por último temos o pedido, ou seja, ações concretas que vão ajudar a resolver a situação. O que será necessário fazer para que se possa atender as necessidades descritas no passo anterior.

Por exemplo: Ao invés de falar “Eu não quero ser interrompido quando estiver falando.” você pode falar “Eu gostaria que você aguardasse até que eu terminasse minha fala para que em seguida você expusesse sua opinião” ou “É importante para mim que eu conclua a fala antes que você inicie a sua”.

Vamos ver agora um exemplo completo de como seria uma mensagem sem usar a CNV e como ela ficaria com o uso desses passos?

Você sempre chega atrasado para as reuniões e isso é um desrespeito enorme”.

Claramente é algo recorrente, que você entende ser de forma proposital. Você está dizendo que ela fez para te desrespeitar. Olha quantos julgamentos e suposições existem aqui.

Agora vamos aplicar a CNV.

Quando você chega mais do que 5 minutos atrasado na reunião que marcamos (observação), eu me sinto desrespeitado e triste (sentimentos), pois preciso que você seja pontual para demonstrar que está comprometido com as nossas reuniões e com a estratégia da empresa (necessidade). A partir de agora você poderia chegar no horário agendado da nossa reunião? (pedido)

Bruno, quando você grita comigo na frente dos meus colegas (observação), eu me sinto diminuído e com medo (sentimento), porque preciso sentir que sou respeitado e que meus colegas querem me ajudar a me desenvolver (necessidades). Você poderia me chamar para conversar em particular quando quiser me dar algum feedback? (pedido).

Essas frases, escritas dessa forma, podem parecer não usuais e até longas demais, mas quanto mais você suprimir esses 4 fatores, mais você diminuirá a possibilidade de gerar empatia e trazer o que se espera à consciência.

Esopo sobre o Vento e o Sol

E para fechar o episódio de hoje eu vou trazer aqui uma fábula de um escritor grego chamado de Esopo sobre o Vento e o Sol:

“Certo dia, o Vento e o Sol estavam discutindo sobre quem era mais forte. Quando surgiu um viajante na estrada, eles decidiram resolver a questão descobrindo quem conseguiria tirar o casaco do homem primeiro.

O Vento soprou o mais forte que pôde, usando potentes rajadas de ar para erguer das costas do homem o casaco. Por fim, o homem simplesmente se inclinou e apertou melhor o fecho do casaco usando as duas mãos.

Então, foi a vez do Sol… Lentamente ele começou a emanar raio após raio com muita delicadeza. O viajante, sentindo calor em sua jornada, tirou o casaco com um sorriso, e admirou o clima gostoso e o sol agradável.”

Dureza e violência nem sempre vão te levar ao resultado esperado, não é?

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