Nesta semana iremos falar sobre as decisões que tomamos baseadas em valores errados. Não estou falando de valores financeiros e sim dos nossos valores essenciais, aqueles que moldam os nossos comportamentos como Honestidade, Família, Colaboração, Estabilidade e muitos outros.
A maioria das decisões que tomamos nas nossas vidas, desde os grupos que frequentamos no colégio, a pessoa com quem escolhemos nos relacionar, colegas de trabalhos, têm relação com esses valores. Muitas vezes isso passa desapercebido, porque não trazemos essas decisões para o nível de consciência.
Por exemplo, quando você escolhe um parceiro ou parceira, você não pensa: “escolhi fulano/fulana para namorar porque ele/ela possui compatibilidade com os meus valores de honestidade, família e bondade”.
Porém, inconscientemente, nosso cérebro registra atos/ações simples, como um momento que essa pessoa está ajudando alguém necessitado. São os comportamentos que demostram implicitamente os valores e que conectamos com os nossos.
O que significa então, tomar uma decisão baseada no valor errado?
Existe uma pegadinha na interpretação dessa frase. Não existe valor errado, existe prioridade de valores.
Por exemplo, uma pessoa que tem como principais valores, família e honestidade, mesmo se sentindo mal, tomaria uma decisão desonesta para proteger a família. E não precisar ser algo extremamente grave, mas coisas simples, como mentir no trabalho, dizendo que está doente para poder levar o filho ou filha ao médico.
Parece surreal, não é? Afinal, que trabalho não iria aceitar que um pai ou uma mãe se ausentasse para levar o filho ao médico? Acreditem, existem muitos lugares que tratam pessoas como meros crachás.
Podemos pensar em algo diferente! Imagine que essa pessoa precise de dinheiro para o tratamento da esposa, que corria risco de morte. Por conta desta situação, acabou aceitando um acordo com uma empresa oferecendo vantagens, e assim ganhar 20% do contrato assinado.
Essa balança entre os valores é muito tênue e quanto mais distantes os valores que estão sendo contrastados, maior terá peso na decisão, o valor principal.
Decisões por impulso
Quem nunca tomou uma decisão por impulso e depois se arrependeu? Essas decisões acabam se tornando verdadeiros fantasmas que nos assombram durante muito tempo.
Seja a consciência de um ato desonesto ou aceitar um novo emprego que pague melhor, mas que tira sua liberdade ou autonomia.
E esse último exemplo foi proposital. O dinheiro não é um valor, mas ele pode ser traduzido se você der a ele algum significado.
O dinheiro pode ter diferentes significados para cada pessoa. Pode ser: Eu preciso de dinheiro para dar qualidade de vida a minha família; para tratar a doença da minha filha; para conhecer outras culturas e pessoas ou para ter estabilidade.
O importante é que ele esteja atrelado a um valor essencial seu. Muitas vezes a decisão financeira está mais atrelada a ego do que necessidade. Eu quero mais dinheiro para poder dizer aos outros que ganho mais e mostrar o meu prestígio com fotos de viagens no Instagram, por exemplo.
Nada contra viagens, carros e outros bens! Acredito que cada um tem que buscar o que te faz feliz, DESDE QUE, não tenha conflito com outro valor essencial mais importante.
No exemplo que eu dei, de que adianta ganhar mais, se você não consegue estar com a sua minha família, porque trabalhs 16 horas por dia, sábado e domingo. Ou então, ter que lidar com situações de politicagem e manipulações que vão de encontro com os meus valores de honestidade e justiça.
Será que realmente, esse dinheiro a mais vai “compensar”? A palavra é exatamente essa! Será que todo o peso do dinheiro sobre os meus valores que estão sendo negligenciados, compensa? Fica aqui a reflexão para vocês.
Rua do Mercado Central
Aproveitando o tema, vou contar uma história que achei muito bacana e que tem total relação com o assunto. Talvez vocês até já a tenham ouvido, mas vou trocar o nome dos personagens para fingir que nova. Os nomes são puramente fictícios e esta história aconteceu na época da segunda guerra.
A Biblioteca
Pedro Soares se levantou do banco, endireitando a jaqueta de seu uniforme e observou as pessoas fazendo seu caminho através da Rua do Mercado Central. Ele procurou pela garota cujo coração ele conhecia, mas o rosto não: a garota com a rosa!
Seu interesse por ela havia começado seis meses antes, na Biblioteca Municipal. Tirando um livro da prateleira, ele se pegou intrigado, não com as palavras do livro, mas com as notas feitas a lápis nas margens.
A escrita suave refletia uma alma profunda e uma mente cheia de brilho e criatividade. Na frente do livro, ele descobriu o nome do primeiro proprietário: Srta. Monique Santos.
Com tempo e esforço, ele localizou seu endereço. Ela vivia no Rio de Janeiro. Ele escreveu-lhe uma carta, apresentando-se e convidando-a a corresponder-se com ele.
Porém, na semana seguinte, ele embarcou em um navio para servir na II Guerra Mundial.
Durante o ano seguinte, mês após mês, eles desenvolveram o conhecimento um do outro através de suas cartas. Cada carta era uma semente caindo num coração fértil. Um romance de companheirismo. Pedro pediu uma fotografia, mas ela recusou.
Quando finalmente chegou o dia em que ele retornou ao Brasil, eles marcaram seu primeiro encontro – 7 da noite na Rua do Mercado Central.
“Você me reconhecerá”, ela escreveu, “pela rosa vermelha que estarei usando na lapela”.
O primeiro encontro
Então, às 7:00, ele estava na estação procurando por uma garota cujo coração ele amava, mas cuja face ele nunca havia visto.
Pedro conta que seu primeiro encontro foi assim.
“Uma jovem aproximou-se de mim. Sua figura era alta e magra. Seus cabelos loiros caíam delicadamente sobre os seus ombros; seus olhos eram verdes como água. Sua boca era pequena; seus lábios carnudos e seu queixo tinha uma firmeza delicada. Seu traje verde-pálido era como se a primavera tivesse chegado.
Eu me dirigi a ela, inteiramente esquecido de perceber que ela não estava usando uma rosa. Como eu me movi em sua direção, um pequeno provocativo sorriso, curvou seus lábios. “Indo para o mesmo lugar que eu marinheiro?”, ela murmurou.
Quase incontrolavelmente dei um passo para junto dela, e então eu vi Monique.
Srta. Monique Ramos
Ela estava parada quase que exatamente atrás da garota. Uma mulher com pouco mais de seus 50 anos, ela tinha seus cabelos grisalhos enrolados num coque sobre um chapéu gasto. Ela era mais que gorducha, seus pés compactos confinavam em sapatos de saltos baixos.
A garota de verde seguiu seu caminho rapidamente. Eu me senti como se tivesse sido dividido em dois, tão forte era meu desejo de segui-la e tão profundo era o desejo por aquela mulher cujo espírito, verdadeiramente, me acompanhara e me sustentara através de todas as minhas atribulações.
E então ela parou! Sua face pálida e gorducha era delicada e sensível, seus olhos cinzas tinham um calor e simpatia cintilantes. Eu não hesitei… Meus dedos seguraram a pequena e gasta capa de couro azul do livro que a identificou para mim. Isto podia não ser amor, mas poderia ser algo precioso. Talvez mais que amor, uma amizade pela qual eu seria para sempre cheio de gratidão.
Eu inclinei meus ombros, cumprimentei-a mostrando o livro para ela, ainda pensando, enquanto falava, na amargura do meu desapontamento:
“Sou o Tenente Pedro, e você deve ser a Srta. Monique. Estou muito feliz que tenha podido me encontrar. Posso lhe oferecer um jantar?”
O rosto da mulher abriu-se num tolerante sorriso:
“Eu não sei o que está acontecendo”, ela respondeu, “aquela jovem de vestido verde que acabou de passar me pediu para colocar esta rosa no casaco. Ainda me disse que, se você me convidasse para jantar, eu deveria lhe dizer que ela estaria esperando por você no restaurante de esquina. Me disse que isso era algum tipo de teste!”
Resumindo
Muitas vezes, precisamos testar para ter certeza de que nossos reais valores estão sendo considerados nas nossas decisões.
Se você tem dúvida sobre alguma decisão difícil que tem que tomar, coloque seus valores em uma folha de papel, na sua ordem de prioridade e veja se os benefícios dessa decisão são consistentes com os seus valores.
Se a sua resposta for não, tome muito cuidado para não criar um fantasma que vai te trazer ansiedade, angústia, descontentamento e arrependimento.
E lembre-se tudo na vida é impermanente, logo a sua decisão também pode ser assim.