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Lavando roupa suja da empresa nas redes sociais

Lavagem de Roupa Suja

No artigo dessa semana, vamos falar sobre um comportamento que temos visto acontecer com frequência, lavar de roupa suja da empresa (ou do seu chefe) nas redes sociais. Isso foi assunto de muita polêmica, há três semanas.

Como não vou falar especificamente de empresa ou pessoas, vou criar uma história para dizer o que eu acho dessa situação. Se você não faz ideia do que eu estou falando, fique tranquilo, minha história vai te ajudar a entender parte desse contexto.

Tudo aqui é ficção científica e qualquer semelhança é coincidência. Inclusive parte dessa história é meramente ilustrativa e especulativa.

Empresa Pedro Dindin

Nossa história se passa na Pedro Dindin, uma empresa conhecida no mercado financeiro que vem crescendo muito nos últimos anos. No departamento de controle de vendas, trabalha Miguel, com o seu líder direto Juarez e seus colegas de trabalho.

A empresa vem crescendo e com isso, metas agressivas, controles, compliance e regulações tomam conta de cada departamento. Errar não é mais permitido. Somos grandes e queremos estar entre os maiores.

Miguel vem trabalhando durante muito tempo sob essa pressão e está cansado, próximo do seu limite. Porém, sempre mantem o seu trabalho conforme a expectativa de seu chefe Juarez.

Juarez , não aceita falhas. Ele é responsável por um departamento super importante e estratégico na empresa. Errar não é aceitável e pode causar enormes impactos de imagem e financeiro na empresa. Diariamente ele conversa com o time e deixa claro, errar não é uma opção.

Com o time cada vez mais desmotivado e cansado, um dia, por conta da exaustão, acaba deixando todo o sistema de vendas fora do ar.

Neste dia, Juarez perdeu o controle e gritava com o time coisas como: “Como vocês deixaram isso acontecer?”, “Não é aceitável, eu deixei claro para vocês”, “Miguel, é inconcebível que você tenha deixado isso acontecer”. Para o time a mensagem era clara: se você cometer esse erro novamente, estará fora.

Miguel, cansado desse cenário, decidiu desabafar nas redes sociais, mostrando a realidade pela qual passou nos últimos meses. Com isso ele colocou em cheque a capacidade de liderança do seu chefe e a imagem do Pedro Dindin.

As pessoas começaram a discutir nas redes sociais e o tema foi crescendo. “Como podia uma empresa tratar assim seus funcionários?” “Isso é assédio moral!”, muitos diziam. “Esse é um exemplo do que não fazer como líder”.

Vamos mudar agora um pouco essa história?

Juarez estava há muito tempo na empresa e sabia o que era necessário para manter a casa em ordem. Ele dedicou muito tempo da sua vida, até mesmo estando afastado da sua família para que tudo desse certo. Ele era ambicioso, mas também buscava entregar o seu melhor.

Conhecendo o risco do seu trabalho decidiu criar procedimentos e regras que deveriam ser seguidos para evitar qualquer risco. Apresentou para o time e pediu que todos seguissem.

Dentro do time, algumas pessoas seguiram, entendendo o propósito e a importância e outros, como Miguel, não pensavam que isso era tão importante. Diversas vezes Juarez explicou a Miguel que não podia tentar acelerar o processo ou seguir um fluxo diferente e que as regras foram criadas para evitar problemas.

Muitas vezes, Miguel não seguiu e por sorte não teve problemas. Até que, um dia o gato subiu no telhado. O sistema ficou fora do ar.

Juarez não acreditou, no dia anterior ele tinha reforçado a importância dos procedimentos e Miguel não seguiu? Porquê? Juarez explodiu, falou o que pensava e antes mesmo de se arrepender já era tarde, seu nome estava nas redes sociais. Diversas pessoas criticando sua empresa, sua liderança, vendo Juarez apenas através dessa conversa.

Julgamentos mais rápidos do que a velocidade da luz

Eu poderia criar muitas outras histórias aqui, colocando cada um dos personagens em situações de vítima e opressor. Nós nunca vamos saber exatamente o que aconteceu, porque não estivemos no contexto. Estamos com 3 peças do quebra-cabeças, tentando adivinhar a imagem.

O fato é que, no momento em que isso sai da empresa e vai para as redes sociais, é o nome da empresa, a imagem e a carreira dos profissionais que estão em jogo. Nas redes sociais o compartilhamento de fatos com o julgamento alheio é mais rápido do que a velocidade da luz.

Alguns de vocês devem lembrar daquela publicação falsa que teve sobre mulher, acusada de ser uma sequestradora de crianças e acabou sendo linchada até a morte. Somente após a morte dela que verificaram que isso era mentira.

Redes sociais não é lugar para lavar roupa suja.

Mas você deve ser perguntar, “não podemos expor o que nós pensamos?” Claro que pode, a liberdade de expressão é direito de todos, desde que respeite o limite do outro, inclusive quando o outro é a empresa.

Vamos supor que no caso da Pedro Dindin, este foi um evento isolado. Mas que acabou fazendo com que a empresa perdesse clientes e com isso 20% das pessoas foram desligadas. Você acredita que essa lavagem de roupa suja foi boa para empresa ou para as pessoas que estão lá?

Mas se a empresa estiver realmente tratando mal seus funcionários, com líderes autocráticos e um ambiente totalmente tóxico? Não seria certo colocar a boca no trombone?

Um organismo vivo

Eu vejo toda empresa como um organismo vivo, e todo organismo vivo, quando tem um problema, dá sintomas. Se você tem alguma infecção, você apresenta febre, se você tem pedra nos rins você apresenta dor, ou seja, sempre existe uma forma de identificar que algo não está legal.

Uma boa empresa, sempre tem um canal aberto com seus funcionários, uma ouvidoria, ombudsman ou até mesmo a área de pessoas.

Se uma empresa tem problemas como esse, de forma generalizada, alguém já teria levantado esses pontos e a empresa já teria se manifestado para resolver o problema. Ela não ia esperar acontecer algo grave.

Por isso na minha opinião esse foi um cenário específico, onde ninguém está certo. Isso mesmo que você ouviu, para mim todos estão errados.

O líder que, independente do estresse, tratou da forma errada o problema, dando feedback de correção em grupo, tratando de forma abusiva e ameaçadora.

O funcionário ou equipe que não seguiu os acordos e principalmente não vestiu a camisa do lugar onde trabalharam, preferindo se colocar como vítimas em uma rede social, esperando apoio.

E como resolver?

Se o líder tem problemas com alguém, existem formas de se resolver isso, como: dar feedback; conversar; ter empatia; comunicar com clareza; utilizar comunicação não-violenta; definir ações de melhoria e se não der certo, realocar onde a pessoa tenha mais aptidão ou agradecer pelo tempo que esteve na empresa dar oportunidade para que a pessoa encontre seu lugar.

Se o funcionário tem problemas com o líder, ele também deveria ter chamado o seu líder para dar feedback sobre o trabalho dele. Caso não desse certo, existem canais corretos DENTRO da empresa que podem ser utilizados, para mostrar que você está buscando o que é melhor para você e para a empresa.

A empresa não vai saber que existe uma liderança desalinhada com os valores dela se ninguém falar. E se nada der certo, lembre-se que você tem a escolha de ir para uma empresa que te proporcione o que você está procurando.

Ninguém te obrigou a vir para essa empresa e nem está te obrigando a ficar. A escolha sempre tem que ser porque você se sente bem e se sente feliz em fazer parte da empresa.

Por último, a empresa tem que fomentar um ambiente de colaboração, transparência e comunicação aberta. Onde desde o CEO até o faxineiro, estão disponíveis e abertos para ouvir opiniões, críticas e sugestões para melhorar o dia a dia, a empresa e o ambiente. Isso é sentimento de DONO.

Resumindo

Na minha opinião é muito deselegante e desrespeitoso tratar problemas da sua empresa ou da sua liderança nas redes sociais. Isso só demonstra que você não se sente parte da empresa, não teve atitude para resolver o problema em casa ou então para simplesmente sair e preferiu se colocar como vítima e ficar reclamando. Mas isso, meus caros, é só a minha opinião! 🙂

Um abraço e a gente ainda se vê essa semana.

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