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Servir: A diferença entre o céu e o inferno

Liderança

Hoje falaremos sobre algo tão simples, mas que muitas vezes não é percebido pelas pessoas que deveriam, o ato de servir.

Muitos de vocês já devem ter ouvido falar de liderança servidora, principalmente devido ao livro “O Monge o Executivo”. Neste livro, lançado em 1998, o conceito de liderança é descrito como a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem em busca de um propósito, visando alcançar objetivos para o bem comum.

Gosto muito dessa definição porque foge do trivial como, “buscando alcançar resultados”, “dar exemplos”, “ser um guia”. No livro, o autor até usa uma palavra leve: influenciar. Mas de fato é persuadir, fazer com que o outro perceba, através dos seus argumentos que determinada ação será a melhor para todos e não apenas para mim, para você ou para empresa.

No entanto, por que servir não é tão percebido assim?

A partir deste ponto, falarei sobre a minha percepção, baseada em minhas experiências. Não significa que seja algo dicotômico e sim o que vivenciei. Pode ser que a sua experiência seja diferente, então fique à vontade para comentar. Acredito que essas trocas sempre são enriquecedoras.

Durante a minha carreira, sempre vejo as pessoas focando no crescimento. Olhando para o próximo passo, a próxima meta. Em como atender a expectativa que se tem em relação à entrega, eficiência, resultados. Isso não é nada ruim. Um norte a ser alcançado é fundamental.

Para exemplificar, imagine que sou uma pessoa que trabalha em um time com outras 6 pessoas. Na maioria das vezes, a gente pensa que o crescimento depende do resultado individual, até mesmo porque a maioria das empresas trabalha desta forma, focando o desempenho individual. Porém, isso fomenta um comportamento de competição: Eu preciso ser melhor que os meus colegas para que eu possa me destacar e crescer.

E ainda tem um agravante. A expectativa do superior, muitas vezes molda como eu me comporto e as minhas ações. Em um nível de time, isso pode direcionar pessoas em caminhos diferentes e fazer com que o time não tenha um propósito comum.

Se você possui uma liderança com esse olhar, é bem possível que em pouco tempo você tenha um time que entrega, mas que não se sente bem com a sua forma de trabalhar. Não se sentem em um ambiente seguro para compartilhar uns com os outros. Afinal, qualquer um pode tentar “passar a frente” nessa corrida pelo crescimento.

Vejamos as realidades das camadas superiores das empresas, voltadas a metas, garantir margens altas, satisfação dos acionistas e crescimento de ebitda.

E as empresas ?

Por mais que a empresa tenha os pilares robustos em pessoas, processos e clientes, o lucro é o oxigênio da empresa. Se você tem líderes que não conseguem traduzir e quebrar a estratégia em ações alinhadas com as pessoas, é criado cria uma verdadeira desconexão com a parte mais importante das empresas, as pessoas que efetivamente estão na ponta de qualquer processo.

Imagina um líder com visão puramente financeira, tentando entregar o máximo possível com o mínimo de pessoas e gastos. Fazendo com que a equipe trabalhe sem horas extras; contratando pessoas mais baratas para diminuir o custo e sem investir no desenvolvimento das pessoas ou treinamento, porque entende que esse tempo poderia estar sendo despendido em atividades cobráveis dos clientes.

Esse líder não se preocupa em se aproximar das pessoas e saber como elas estão, o que precisam, em quem são ou como melhorar o dia a dia do trabalho delas. Muito menos se estão no momento de transição de cargo ou carreira. A preocupação será apenas em empurrar qualquer necessidade, qualquer problema e garantir o resultado do projeto.

Aqui temos um ponto extremamente importante: clientes são pessoas, executivos são pessoas, acionistas são pessoas, fornecedores são pessoas, equipe são pessoas, ou seja, você só lidará com pessoas. Máquinas não decidem sobre projetos, não vão avaliar o seu trabalho, não vão fechar contratos, não vão dar feedback e nem garantir que você baterá a sua tão idolatrada meta.

Então se você não quer lidar com pessoas na sua carreira, existe uma grande chance de você se decepcionar ou se tornar um mal profissional, independente do perfil que você terá, seja de líder ou liderado.

E quando você se voltar para pessoas, perceberá que pessoas têm vidas, comportamentos, crenças e vivências, personalidades diferentes. Tudo para dar um nó na sua cabeça.

Como lidar com tanta gente diferente sem pirar?

Independente de todas as características que falei, as pessoas possuem suas dores, suas necessidades, seus momentos de ajuda e de ter um propósito para seguir adiante. Isso tudo é natural do ser humano.

Então, se você quer acertar no quesito lidar com pessoas, servir é o ato que mais funciona. Quando uma pessoa tem uma necessidade, seja aquele que está ali para ouvir, orientar, apoiar, mesmo que não seja uma necessidade de trabalho. Às vezes, só isso faz uma diferença enorme.

Em muitos momentos da minha carreira, alguém veio conversar comigo sobre assuntos que nada tinham a ver com o trabalho e eu consegui ajudar. Assuntos que iam desde remédio para cachorro ou para servir de ouvinte para um colega que perdeu um familiar. Tudo isso é servir. E na minha longa jornada, não conheci nada mais poderoso que servir para gerar propósito, comprometimento e engajamento.

Mas para ser um líder servidor você tem que se despir da arrogância, ego, cargo, experiência e dinheiro. Você tem que ser humilde e tratar com igualdade a todos. Você deve imaginar quanto isso é difícil no mundo atual, ainda mais quando falamos de liderança, não é?

Servir é uma demonstração de amor ao próximo e não é apenas algo relacionado a liderança.

Servir ao próximo

Existe um conto que acho muito interessante, que mostra bem como o “servir ao próximo” pode mudar o cenário, independente de quão ruim ele pareça. E esse conto que usarei para finalizar o artigo de hoje, deixando a reflexão para vocês.

“Certa vez, Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.

O homem tinha em suas crenças que o inferno seria um local repleto de sofrimento, fogo e cheiro de enxofre. Onde as pessoas seriam torturadas e espetadas com tridentes.

Chegando lá ele viu um caldeirão cheio de comida e ao redor do caldeirão pessoas magras, tristes e com um semblante abatido. Cada uma delas tinha uma colher com cabo longo, que chegava até o caldeirão. Mas que não conseguiam trazer até a boca porque o cabo era muito longo.

Em seguida, Deus o levou ao céu, onde para sua surpresa, viu um caldeirão igual, porém dessa vez cercado de pessoas felizes, sorridentes, conversando umas com as outras. Olhando em suas mãos, encontrou a mesma colher e não entendeu.

Perguntou então a Deus. Então o céu e o inferno são iguais? E Deus lhe respondeu.

Claro que não, aqui as pessoas estão preocupadas em alimentar o próximo e com isso todos tem um propósito comum.”

A diferença entre o céu e o inferno pode estar simplesmente nas intenções e nas ações por trás dessas intenções.

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