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O impacto da memória e suas emoções

O impacto das emoções

Você sabe por que a sua memória pode impactar nas suas emoções ?

Durante toda a nossa vida passamos por eventos externos de muita importância, alguns  positivos e outros negativos. Quando falo de eventos externos, não são as coisas do dia a dia e sim momentos realmente incidentais, momentos em que passamos por grandes emoções.

Quanto maior a emoção que sentimos por conta desse evento, maior é o impacto que sentimos internamente também, ou seja, maior é o impacto no nosso organismo. Os impulsos do nosso cérebro e sua química estão intimamente relacionados com as reações fisiológicas do nosso corpo.

Quando estes eventos ocorrem, normalmente focamos na causa, ou seja, o ponto de maior influência. Isso faz com que a gente gere um registro daquele momento, quase como uma fotografia ou um vídeo. Esse registro pode ser acessado a qualquer momento durante a nossa vida e o nome que damos a ele é memória.

Nesse sentido, se este registro estiver associado a uma emoção, seja ela de alegria, felicidade, medo, ansiedade, raiva, estresse ou qualquer outra emoção, mais ele vai ficar gravado na sua memória.

Emoções Positivas e Negativas

O impacto das emoções
Pense em um momento muito feliz da sua vida. Pode ser o nascimento do seu filho, seu casamento ou aquela vitória inacreditável do seu time no campeonato. Provavelmente você se lembra muito bem desse momento, porque a emoção de alegria associada a ele criou uma memória forte e de longo prazo, bem detalhada e que você revisita sempre que deseja. É como se fosse um pequeno filme na sua mente.

Mas ao mesmo tempo que os bons sentimentos ficam gravados na nossa memória, outros sentimentos geram o mesmo tipo de registro. Por exemplo, a perda de alguém que você amava, um momento da sua vida que você passou por grande estresse, como a perda de um emprego ou uma doença grave e até mesmo uma separação. Essas emoções de medo, insegurança, raiva também geram memórias muito fortes.

As vezes o evento é algo tão grandioso que transcende o ambiente pessoal, porque mexe com seus valores e suas crenças. Neste exato momento, estamos passando por uma pandemia que será lembrada por gerações devido ao impacto emocional que causou nas nossas vidas e na dos nossos descendentes. Não foi a primeira vez que um evento como esse aconteceu. Quer um exemplo? Provavelmente você não se lembra do que estava fazendo nesse mesmo período no ano passado, lembra? A não ser que algo marcante tenha acontecido na sua vida, a resposta será não.

Agora pense no que você estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001, quando houve o ataque às Torres Gêmeas nos Estados Unidos.  Provavelmente você vai se lembrar do que estava fazendo e onde estava e como se sentiu. Vai se lembrar de pequenos detalhes. E nada disso aconteceu com você, com alguém próximo e nem sequer no seu país. Isto acontece porque está associado ao seu sentimento de coletivo, de sociedade e de querer o bem do próximo. 

Emoções e Seus Efeitos No Nosso Organismo

Cada vez que voltamos nestas memórias, o nosso corpo replica todas as reações químicas e fisiológicas que ocorreram no evento original. Ou seja, as reações que o nosso corpo experimentou, como descargas de adrenalina, cortisol, dopamina, ocitocina e outros hormônios que dão sensação de prazer, de dor corporal, de atenção são revisitados. E é exatamente por isso que devemos ter muita atenção!

O nosso cérebro apesar de ser uma super máquina bio computacional não consegue distinguir o que é realidade do que é memória então para ele, em termos de reações, se trata do mesmo cenário.

Lembra que em outro artigo eu falei da nossa estrutura cerebral? Falamos sobre o cérebro trino, que é composto pelo cérebro reptiliano, pelo sistema límbico e o neocortex? Bem, se você não leu não tem problema, aproveite a oportunidade para dar uma lida. O ponto que quero trazer aqui é que a nossa estrutura mais básica, mais antiga e que evoluiu muito pouco nesses milhões de ano, o cérebro reptiliano, têm como principal objetivo o instinto de sobrevivência.

Sabe qual é o maior sentimento associado ao instinto de sobrevivência? O medo. Em um conjunto de memórias que estiverem no seu cérebro, a probabilidade de você reviver uma memória de dor, de medo é bem maior do que a de você reviver uma de alegria.

Instinto de Sobrevivência

Sabe o que o seu cérebro faz quando ele pega uma memória ruim? Ele faz com que você a reviva detalhadamente para saber como evitar que isso aconteça novamente e ele vai tentar prever vários cenários para te proteger.  Geralmente você cria os piores cenários, aqueles que te trazem o maior risco e você começa a cogitar o “e se”. Para nossa vida, este “e se”, pode ser perigoso porque faz com que a gente deixe de agir ou entre em um cenário de ansiedade.

E se isso acontecer? Se aquilo acontecer?  E se eu falhar? Se ela se separar de mim? E se eu perder o emprego?  Se ele morrer e se eu ficar doente ?

Lembra que eu falei que o cérebro não sabe distinguir a realidade do pensamento ou da memória? Cada um desses cenários vai trazer emoções como dor, raiva, medo, ansiedade e vão mudar toda a fisiologia do seu corpo e a química do seu cérebro. Só que neste caso, os neuro hormônios (adrenalina, cortisol, etc.) vão te deixar ansioso, sem sono, alerta o tempo todo,  com medo de que algo ruim possa acontecer e até mesmo podem ocasionar uma taquicardia. Esses neuro hormônios vão fazer com que o seu foco esteja em um “possível pior futuro”, seu subconsciente irá te levar para um futuro desastroso, que na realidade não existe e isso acaba te deixando cego para as coisas boas que podem estar acontecendo agora, no presente.

Hábito do Pensamento Negativo

E no final, o que acontece quando você passa o seu tempo usando as coisas ruins do seu passado e se preparando para um cenário ruim é que você começa a mudar o seu ambiente. Você passa, de forma inconsciente, a sempre estar no modo defesa, seja para novas oportunidades, mudanças, relacionamentos.

Você começa a influenciar a forma como os que te cercam vêem o mundo, porque você quer que eles vejam da forma como você vê, ou seja, esperando o pior acontecer.

Isso pode trazer dois resultados: o afastamento das pessoas que não pensam como você ou a criação de um ambiente de medo, de risco, de ansiedade, cercado por pessoas que vivem dentro de uma “Caverna de Platão”, sem querer olhar pra fora, porque tudo que vem de fora pode ser prejudicial e até mesmo fatal.

Um outro grande problema de estar vivendo nessa transição entre passado e futuro é que você vai deixar de absorver novas informações. Você literalmente vai “congelar”, “procrastinar”, parar no tempo. Porque o seu foco, sua programação mental vai estar associada sempre ao que é mais importante, neste caso, sua sobrevivência.

Como controlar os impactos das suas emoções

Agora vem a boa notícia. Nada disso é permanente! Nós, seres humanos, ao contrário da maioria dos animais, temos um lado consciente, que nos permite trazer um outro olhar e principalmente um outro significado ao que vivemos.

E para fazer isso o mais importante é você diminuir a intensidade dessas emoções. Lembrando que a emoção é algo incontrolável, não adianta você querer “parar de lembrar”, “desacelerar o coração” ou “para de sentir medo”.  As emoções não funcionam assim. Para que você possa sair desse loop você precisa ativar o seu lado racional.

Conversar e Questionar

Paciente sentado na poltrona e conversando com o psicologo.

Conversar com outras pessoas ajuda muito. Pode ser um familiar, amigo, coach ou um psicólogo. Cada um pode contribuir principalmente através de perguntas que te façam raciocinar sobre o cenário de forma a se ver em terceira pessoa. Quer ver um exemplo?

Lembra que eu falei do “e se” ? Imagine que hora em que você está no loop do “E se eu perder o emprego?”, eu te pergunto: “Que fato te faz pensar que você seria demitido ?”. Olha a palavrinha mágica. FATO.

Não adianta falar “eu acho”, “foi fulano”, “eu imaginei”, porque tudo isso é subjetivo. Fato é fato e é imutável. Geralmente quando fazemos essas perguntas as respostas são: “não tem nenhum fato realmente”, seguido quase sempre de um “mas é que eu pensei que …” e uma historinha pra ilustrar o pensamento. Fazer as perguntas certas é um passo para te tirar do loop e te trazer para o momento presente.

Outra pergunta muito boa e que tem a ver com o “e se”. Pergunte: “E se você não perder o emprego?”

Meditar


Uma outra forma de diminuir o impacto dessa emoção é meditar. Diversos estudos mostram que a meditação ajuda a desacelerar o organismo, melhorar a regulação hormonal e consegue trazer os nossos pensamentos para o momento presente.

Mas não adianta começar a meditar, ansioso para terminar. Ou ficar pensando que só se passaram 2 minutos e que quando terminar você ainda tem um monte de coisas pra fazer. Coloque o seu foco no processo, mesmo que seja por 5 minutos. Desligue o celular, esteja em um ambiente mais silencioso e comece focando na sua respiração.

Ressignificar

Ressignificar
E por último uma técnica que eu gosto de usar, oriunda da PNL, é a técnica de ressignificar ou fazer um reframe, ou seja, dar um novo significado ao evento. Nessa técnica, para cada evento, você pode escolher o que você quer lembrar e como você quer lembrar.

Vamos pensar na perda de um emprego. Você pode se vitimizar, achar que o mundo é injusto, que você é incompetente, que você não está preparado para um novo emprego e que está velho. Com isso, você pode se sentir com medo, ansioso ou angustiado. Esse é o padrão que a maioria das pessoas vai passar em um momento como este.

Quando você usa a técnica de ressignificar, você muda o seu pensamento para: “Agora eu vou ter a oportunidade de encontrar algo que tenha mais a ver comigo, onde eu seja mais respeitado e possa fazer o que gosto. Durante esse período vou aproveitar para entender o que eu quero da minha carreira e poderei dar atenção a minha família.”

Eu imagino que você deve estar pensando “é muito fácil, mas eu tenho contas pra pagar” e aí eu te faço a pergunta, “Você vai pagar melhor as suas contas se estiver ansioso? Vai fazer melhor uma entrevista se estiver com medo de não ser aceito? Ou será que essas emoções vão te sabotar ?”

Mantenha o seu foco no presente, no agora. Isso é um treino, não é uma coisa que vai acontecer de uma hora pra outra. Aos poucos você vai se acostumando, o impacto que essas emoções do passado e da projeção do futuro vão diminuindo de intensidade e você terá cada vez mais consciência sobre o que está acontecendo com você.

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