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Clareza – o primeiro passo de qualquer mudança

Clareza

Você sabia que a clareza é o grande ponto de inflexão para iniciar um comportamento de mudança?

Sempre que inicio um processo de coaching, algumas pessoas chegam certas de que sabem o que querem e o que precisam para resolver seus problemas. Geralmente estão buscando mais foco, mais organização, mais disciplina ou então mais coragem pra vencer seus desafios. Tudo isso é muito importante, mas na prática, tudo é muito subjetivo, falta clareza. Quando queremos fazer uma mudança na nossa vida, temos o fator inspiracional (nosso propósito, nosso legado) e o objetivo exato, este sim vai permitir que você atinja esse legado.

Quer ver um exemplo? Alguém chega e fala que está infeliz no trabalho e tem como objetivo mudar de emprego. À primeira vista, parece que o objetivo está bem claro, não é? Só que não. Geralmente a pessoa só percebe o que a incomoda, o que ela não gosta e o que a desagrada, como “ah meu chefe me recrimina”, “meu salário é baixo”, “o que faço não é desafiador”, “queria estar em um lugar melhor”.

A mudança nasce da dor ou do prazer

Tudo isso incomoda, porque se não incomodasse não haveria mudança. Aqui vou abrir um parêntese, praticamente toda mudança é ocasionada por uma dor ou por prazer.

Existe uma história, que acho até que já contei em outro artigo, mas se enquadra muito bem aqui: A história do Cachorro Sentado no Prego.

Um motorista estacionou em um posto de gasolina para reabastecer seu carro e de repente, começa a ouvir uivos que pareciam de dor de algum animal.

Ele então decide perguntar ao frentista.

– Você sabe o que é isso?

– Sim, isso é aquele cachorro ali, que está sentado no prego desde hoje cedo.

-Mas por que ele não levanta? – o rapaz pergunta.

– Porque não deve estar incomodando tanto assim. – responde o frentista.

Entende a sutiliza da história? Às vezes temos um incômodo, mas a nossa mudança só vai acontecer quando esse incômodo se tornar insuportável. E isto vale tanto no relacionamento pessoal, como no profissional.

Você sabe onde quer chegar?

Em um processo de coaching, geralmente, as pessoas chegam neste momento. Ela sabe o que a incomoda, mas quando faço as primeiras perguntas, dá para perceber claramente que ela não sabe onde quer chegar.

O que você gostaria de fazer? Não sei.

Onde você gostaria de trabalhar? Não sei.

Quais são os valores da empresa que você procura? Não sei.

O que seria um desafio para você? Não sei.

São pessoas que chegam cheias de iniciativa, mas não tem a menor noção para onde quer ir. Geralmente isso acaba a colocando em um cenário de estagnação ou pior, seguindo o exemplo que demos acima, ela pode mudar para um emprego que tem o mesmo cenário que o anterior, porque simplesmente mudou por mudar.

E você acha que isso só tem relação com o nosso lado profissional? Nada disso. Relacionamentos tem as mesmas características. Todo mundo conhece alguém que vive trocando de relacionamentos e não sabe por que não dá certo?

É simples! Não dá certo porque essa pessoa não tem a menor ideia do que ela está procurando. Ela sabe o que a incomoda e só sente o incômodo depois que ela entra efetivamente no relacionamento. A mesma analogia podemos usar com a empresa.

Então se você quer fazer qualquer mudança na sua vida, o primeiro passo é ter clareza.  Mas clareza de quê? Da mudança?

Clareza de quê?

Seria fácil se eu dissesse que sim, mas a maioria das mudanças que trazemos para nossa vida estão relacionadas a diversos fatores do nosso modelo mental. Neste artigo vou dar apenas um apanhado do que eu acho que são os principais fatores que podem influenciar na sua decisão de mudança e na clareza de onde você quer chegar.

Valores

O primeiro deles são seus valores. Valores são uma parte muito marcante da nossa personalidade e moldam a forma como encaramos o contexto em que vivemos. Quer um exemplo?

Eu tenho como valores essenciais, a família, o respeito e a justiça. Exatamente nessa mesma ordem.

O valor de justiça faz com que eu tenha raiva em situações de injustiça como tratamentos diferenciados por classe social, credo e raça, negligência em hospitais ou desrespeito ao trabalho de alguém.  Para trazer uma luz por exemplo, quando alguém recebe uma gratificação porque soube se vender e outro, que entregou um trabalho melhor mas não se vendeu bem, deixou de ganhar. Isso me incomoda.

Agora vamos dar um exemplo de respeito e família.  Imagine que estou dirigindo com minha família dentro do carro. De repente, vem um louco cortando todo mundo e me corta quase batendo no meu carro.  O meu valor de respeito vai achar isso um absurdo e rapidamente eu vou ter a vontade de ir atrás dessa pessoa, numa caçada para buscar satisfação.

Então vem a hierarquia dos valores. Meu valor familiar está em primeiro lugar e eu não consigo colocar a minha família em risco. Por mais que eu esteja indo contra o meu valor de respeito, nesse cenário, vou deixar a situação passar.

Isso são valores. São parte do nosso cerne, é o que define importância e como nos comportamos e sentimos diante das situações do nosso cotidiano.

O primeiro passo nesse processo de clareza e autodescoberta é entender quais são seus valores fundamentais e entender que se você está infeliz ou incomodado com alguma coisa há uma chance muito grande que esteja relacionado aos seus valores.

Agora que você já sabe “o que” te incomoda e “por que” te incomoda, você precisa lidar o seu gps mental e descobrir “aonde” você quer chegar.

Crenças

Esse é um passo muito importante. Aqui você vai refletir sobre os seus valores e lidar com as suas crenças. Crenças são todas as definições que tomamos como verdade, mesmo sem termos nenhum fato comprobatório, simplesmente porque em algum momento fomos repetidamente influenciados por esse cenário ou porque tivemos momentos marcantes que causaram alguma cicatriz no nosso subconsciente.

Bonito né, mas vamos a exemplos para que você possa fixar esse conceito. Todo político é corrupto. Temos fatos e mais fatos, mas TODOS não distingue ninguém, então neste caso é uma crença. Sabe quando você vai confiar em um político tendo essa crença? Nunca.

“Pobre não tem tempo para ganhar dinheiro”.

“Só fica rico quem rouba”.

‘Mulher não presta”.

“Empresa é tudo igual, só querem tirar proveito da gente e depois descartar”.

Essa última, no âmbito do trabalho, já ouvi muito e vocês não fazem ideia de como isso pode limitar a sua atuação, simplesmente porque você não vai se dedicar mais pois acha que está sendo escravizado.

Como as crenças influenciam na minha mudança?

Mas como essas crenças podem influenciar nas suas decisões ? Vamos lá:

Você entendeu que seus principais valores são: liberdade, comunicação e abundância financeira. Baseado nisso você começou a pensar que tipo de trabalho você poderia viajar, ter contato com pessoas e ganhar bem.

Imagine então que você poderia arranjar um emprego part-time, que permitisse o modelo de anywhere office e pagasse em libras, euro ou alguma outra moeda que te desse um retorno melhor. Aí vem sua primeira crença, “não vão querer contratar um brasileiro”, depois, “eu não vou conseguir me comunicar”, “esse emprego nem existe”, e assim por diante. Essas crenças vão te segurar.

Vamos ver agora um caso de relacionamento? Esses são os mais comuns. Seus valores são estabilidade, poder e liberdade.

Então para que você se sinta bem, você precisa de alguém que respeite a sua individualidade, que entenda que você gosta de ter uma posição que lhe dá respeito na sua empresa e que você quer um relacionamento sério.

“Ah mas os homens têm medos de mulheres como eu”. “Nenhum homem quer ficar com uma mulher que viaja muito”. “Se eu ficar viajando eu vou ganhar um par de chifres”. “Nenhum homem aceita que eu saia com as minhas amigas de trabalho e entende que isso é só para descontrair”. Olha quantas crenças vão te limitar a procurar um relacionamento que tenha a ver com seus valores e vão te levar de encontro ao que aparecer pelo caminho.

Me responde, isso faz sentido pra você? Você entende que clareza dos seus valores, de como as suas crenças podem te influenciar poder fazer total diferença na sua vida? Seja pelo lado pessoal ou profissional?

Revisando

Então recapitulando: Descubra os seus valores e entenda por que eles influenciam a sua insatisfação atual. Descubra aonde você quer chegar e reflita sobre as suas crenças. Se são realmente baseadas em fatos que possam comprová-las ou se são apenas pensamentos que estão te afastando do que pode te trazer plenitude e felicidade?

Armadilhas no caminho da clareza

Vou deixar três dicas de armadilhas que você pode encontrar por esse caminho:

Cuidado com a boa vontade dos outros

Às vezes, compartilhamos com os outros o que pensamos, onde queremos chegar, os nossos anseios. E o outro vai encher isso pelo prisma dele, com os valores dele e com as crenças dele. Imagine você virando para o teu pai, que é funcionário público, e que tem como principal valor estabilidade e família e fala que quer empreender e viajar o mundo. Por mais que ele te ame, ele vai falar que você é doido e que isso não é vida. Tudo porque ele está olhando pelo ponto de vista dele, então não se deixe influenciar. 

Cuidado com a embriaguez de informação

Muitas vezes, quando estamos querendo saber “onde chegar”, começamos a consumir muito conteúdo. Isso é fantástico. Porém, cada vez que consumimos mais e mais, chega um momento em que ao invés de ajudar na decisão, essa quantidade de informação nos trava e faz com que existam possibilidades demais. Acabamos ficando sem saber por onde ir.

Mais importante que ter o conhecimento, é aplicar. Se você achou um caminho que tem a ver com os seus valores, teste, não fique esperando a perfeição. Vá ajustando ao longo do tempo. Se você esperar para ter o cenário perfeito, pode ser que você espere demais no mesmo lugar.

Cuidado com a “Síndrome do isso já sei”

Por último, cuidado com a síndrome do “isso eu já sei”, que faz com que você deixe de ver boas oportunidades simplesmente porque acha que já sabe aonde vai dar. Isto vale tanto para relacionamentos pessoais quanto profissionais.  Essa síndrome também está ligada às crenças.

Chega um gestor novo e o primeiro pensamento “Já sei que esse cara é puxa-saco do presidente” ou “Já sei que vai ser mais um carregador de chicote”. Antes mesmo de ter a oportunidade de conhecer e criar um vínculo positivo, a sua crença já está te afastando e sabotando essa oportunidade.

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