Neste artigo, abordarei um tema relacionado ao livro “Nação Dopamina“, da psiquiatra americana Dra. Anna Lembke, da Universidade Stanford. Ela explora a complexa relação entre o cérebro humano e a crescente epidemia de vícios na sociedade moderna, principalmente entre os jovens.
Mas para começar, gostaria que você refletisse sobre algo: imagine que seu filho te chamou para brincar ou, caso não tenha filhos, que acabou de almoçar. Quanto tempo leva até se sentir incomodado por não estar com o celular na mão? Se sua resposta foi maior que 5 minutos, saiba que você é privilegiado, pois a média para essa sensação de abstinência diminuiu drasticamente, chegando a menos de 2 minutos.
Existem cenários onde, mesmo brincando com o filho ou almoçando, o celular está na mão e o foco está disperso.
A Busca incessante por prazer
O tema central do livro é a busca incessante por prazer. Nele, a Dra. Lembke argumenta que vivemos em uma sociedade que valoriza a gratificação instantânea, muitas vezes sacrificando nosso bem-estar a longo prazo. A dopamina, principal neurotransmissor do prazer, ativa a sensação de realização plena ao percorrer as conexões neurais.
Ela explica como o cérebro humano, ávido por recompensas, entra num ciclo vicioso de compulsão. É um drama tanto individual, na busca por esses prazeres, quanto coletivo, como sugere o título do livro.
A realidade é que aprendemos a caçar o prazer, mas perdemos a capacidade de lidar com as dores físicas e mentais. Num contexto de fácil acesso a um extenso cardápio de drogas, incluindo as digitais, aparentemente inofensivas, mas já associadas a várias doenças atuais, desde síndromes de ansiedade até depressão.
A autora defende que perdemos a habilidade de encontrar alegria em prazeres simples e argumenta que a abstinência de dopamina é necessária para restaurar o equilíbrio. A partir dessa abstinência, também podemos resgatar a capacidade de obter prazer em recompensas menos intensas.
Essa busca incessante por prazer pode levar a uma constante sensação de insatisfação, tornando os picos de empolgação cada vez mais raros. Não é mera coincidência que isso se assemelha ao uso de drogas.
A influência da tecnologia
A tecnologia, especialmente as redes sociais, impacta significativamente a forma como as pessoas interagem e se comportam. Quando experimentamos algo prazeroso e recompensador, como receber uma notificação de e-mail ou uma curtida em uma postagem, a dopamina é liberada.
As redes sociais e os aplicativos de celular são projetados para estimular essa liberação de dopamina, criando uma busca incessante por recompensas e gratificação. Isso pode ser utilizado tanto para o bem, como no caso do Duolingo que mencionei em um episódio anterior, quanto para o mal, com o uso excessivo da tecnologia.
Lembra da pergunta inicial? Ela define o quanto você controla seus vícios ou eles te controlam.
Jejum de dopamina
O jejum de dopamina é um período no qual uma pessoa decide se afastar da maior quantidade possível de estímulos, como celular, videogames, TV, computador e outras fontes de recompensa rápida. A ideia por trás é que nos acostumamos demasiadamente à dopamina e precisamos de muitos estímulos para sentir prazer. Com o jejum, a produção da substância voltaria ao nível normal.
Esse jejum virou uma tendência, e muitos têm colhido benefícios com essa prática. Voltam a sentir prazer em atividades desconectadas, como a leitura, caminhadas na praia, brincadeiras com os filhos e conversas com amigos.
Porém, iniciar esse processo pode ser desafiador. A abstinência pode gerar mau humor, irritabilidade e até agressividade. Estabelecer que isso pode acontecer é crucial.
[…] você ouviu o episódio sobre Nação Dopamina, já sabe o que acontece conosco quando passamos tempo no celular, nas redes sociais ou assistindo […]