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O medo de estar cercado de pessoas melhores que você!

O medo de estar cercado por pessoas melhores que você

Nos últimos artigos (clique aqui, aqui e aqui) falamos bastante sobre mudanças. Hoje vamos mudar um pouco assunto, vamos falar sobre um tipo de comportamento que já foi muito comum no mercado de trabalho, mas que aos poucos vem desaparecendo: o medo de estar cercado de pessoas melhores, mais talentosas que você.

Este medo, acaba gerando algumas atitudes que caracterizam a chamada Síndrome de Procusto. Mas antes de falarmos sobre este comportamento, vamos contar um pouco de história.

Procusto, o esticador

Procusto, também conhecido como esticador ou aquele que martela os metais. Ele era filho de Poseidon, Deus dos Mares (também conhecido como o pai do Percy Jackson) e era um ferreiro trapaceiro que possuia um retiro no Monte Korydallos.

Neste retiro, ele convidava os peregrinos que estavam de passagem a descansar e durante a noite, ele ajustava os convidados à cama. Se o convidado fosse muito grande, ele cerrava parte das suas pernas e se fosse muito pequeno, ele martelava até que eles se “ajustassem a cama”.

Ninguém nunca coube na cama que ele tinha, sabe por quê? Porque ele tinha duas camas e ele sempre escolhia a que não estaria de acordo com o convidado

Ate que um dia ele foi capturado por Teseu, que o ajustou à sua própria cama.

Daí surgiu o mito grego do Leito de Procusto, que muitas vezes é utilizado como metáfora para situações em que se pretende impor um padrão.

Síndrome de Procusto

Hoje em dia, usamos o conceito da Síndrome de Procusto para definir as pessoas que têm medo de trabalhar com pessoas melhores que elas. Pessoas que não hesitam em boicotar, humilhar ou menosprezar aqueles que eles consideram superior em talento ou habilidades. São pessoas intolerantes a tudo que seja diferente delas.

Existem vários cenários que ilustram esse medo e eu vou começar pelo mais comum.

Cenário 1: A Entrevista

Imagine que você está em uma entrevista e o seu entrevistador começa a olhar o seu currículo. Questiona os cursos que você fez, sobre as suas experiências anteriores e sobre as suas habilidades e talentos que podem contribuir com o desafio que ele está tendo que enfrentar dentro da empresa.

Você conta, de forma entusiasmada, sobre cada etapa da sua jornada. Fala sobre suas ideias para resolver os desafios que foram apresentados, explica com todo o seu conhecimento técnico como faria para implementar isso na empresa.

Do outro lado você até vê um sorriso. Parece que você está indo muito bem na entrevista, no final você ouve: “Olha realmente você tem muita experiência. Acho que até demais para o que precisamos aqui na empresa, mas fique tranquilo que vou deixar o seu currículo separado caso apareça alguma oportunidade à sua altura

Por mais que isso pareça um elogio, isso esconde um outro lado. O medo de que o seu talento ofusque a pessoa que te contratou. Sim, isso infelizmente ainda ocorre.

Entenda, o seu resultado nunca é seu. No momento em que você está em uma posição de liderança e de gestão, o seu time é o mais importante. Contratar pessoas medíocres, no sentido de medianas, vai refletir em um trabalho mediano. Por outro lado, contratar pessoas extraordinárias vai impulsionar os resultados do time e consequentemente o seu.

Então sempre busque pessoas que possam agregar, cada um com seu talento. E se elas forem melhores que você, fantástico. Isso mostra o quanto você está olhando para o resultado do todo e não o seu, que é altamente valorizado pelas empresas.

Como talento é uma coisa que pode ser desenvolvida, às vezes esse medo surge no dia a dia e aí vamos para o segundo cenário.

Cenário 2: Quem mandou você fazer isso?

Você está trabalhando para conseguir melhorar os processos da sua equipe e possui uma visão holística, ou seja, se preocupa com o todo e não apenas com a sua parte e isso tem trazido muitos resultados positivos.

O seu gestor te chama na sala dele. Nesse momento você tem certeza de que ele quer te parabenizar pelo trabalho que você está fazendo e se enche de orgulho. Ele olha para você e pergunta: “Foi você que gerou esse dashboard?” E você concorda com a cabeça, acenando que sim. E aí ele pergunta: “Mas quem mandou você fazer isso?”.

Nesse momento você já sente uma pontada no estômago e ele continua: “Se você está sem trabalho é só falar comigo, quem tem que se preocupar com o time sou eu. Eu já trabalho nessa empresa há mais de 20 anos e você vem querer agora me mostrar como fazer meu trabalho? Ah, fala sério. Se você quer aparecer, vai procurar um outro lugar porque aqui não é lugar para pavão. Aqui eu quero lobos ferozes, que consigam fazer o que eu falo sem ficar fazendo firula.”

Você sai da sala extremamente frustrado e daí duas coisas podem acontecer: você entende que esse líder não te representa e procura um lugar mais alinhado com os seus valores ou se submete ao modelo de trabalho dele, afinal, ele está aí há 20 anos, alguma coisa ele deve fazer direito, não é?

Cuidado com esse último pensamento! Não é porque alguém segue errando por muito tempo que o erro se torna correto. O fato é que às vezes as empresas são míopes em relação a melhoria. Se o resultado de hoje está bom, para que gastar energia em buscar melhor?

Outros cenários

Um outro comportamento possível, seria o de te encher de tantas atividades que você não terá tempo de pensar em melhorias pois estará sufocado pela execução do dia a dia. Ou ainda, menosprezar o que você fez, dizendo coisas como: “”Olha, é muito legal isso que você fez, mas não vale de nada aqui. Eu trabalho aqui há muito mais tempo e sei muito mais que você e sei que isso não vai dar certo. Você ainda tem que comer muito feijão com arroz para conseguir dar uma ideia boa, então para de bobagem e continua fazendo as coisas que eu mando e deixa que eu me preocupo com o time.

E fica uma dica, se você é líder ou gestor e tem alguém que está se preocupando com algo que vai além do que é esperado, bata palmas, celebre, enalteça esse tipo de comportamento, encontrado em pessoas extraordinárias, que não se contentam em entregar o básico.

Cenário 3: Fogo Amigo

Se você acha que isso só acontece com líderes e gestores, está muito enganado. É muito comum você ver esse medo dentro do próprio time.

Então imagina agora o terceiro cenário.

Você trabalha em uma empresa que tem uma avaliação individualizada, ou seja, cada um é avaliado pelo seu resultado próprio e não pela contribuição coletiva.

No início do projeto, todas as atividades do time estão bem definidas. Durante as reuniões de acompanhamento, você percebe que o seu colega está entregando mais rápido e com qualidade. Se ele for melhor que você, provavelmente vai ser mais bem avaliado e vai receber o bônus/aumento e você não.

Você sabe que em algum momento suas atividades irão se cruzar, pois para que ele possa terminar a dele precisa que você tenha feito a sua. Magicamente essa sua tarefa é a de menor prioridade e ele acaba ficando impactado pois não consegue mais seguir com a demanda dele. Você diz que está fazendo o possível para terminar, mas no final, o que conta é que você entregou suas tarefas antes dele.

Quer ver um outro cenário? Imagina que seu colega surge com uma ideia muito boa e que vai otimizar o trabalho de toda a equipe, automatizando alguns processos. Você pensa: “Putz. Por que não pensei nisso antes?”. Se ele falar com o gestor, você tem certeza de que ele vai acabar se destacando e adeus bônus.

Então você conversa com ele e o faz desacreditar que essa solução seria boa. Diz até que o último que tentou inovar acabou levando esporro e assim garante que ele não será uma ameaça mais para frente.

A situação ainda pode piorar. Ele pode pegar a ideia e apresentar depois como se fosse dele, levando mérito e passando o colega para trás.

Meritocracia mal utilizada

E aqui eu abro um parêntese. Muitas empresas fomentam essa disputa, chamando de meritocracia, mas sendo muito mal utilizada.

Eu sou a favor da meritocracia. Considero uma peça fundamental na motivação das pessoas e importante para o crescimento e bom funcionamento de uma empresa. Mas quando o mérito individual é mais importante, ou melhor, quando ele é mais reconhecido que o coletivo, temos um problema. As pessoas começam a trabalhar para serem melhores uma do que as outras e não entregarem os melhores resultados.

Resumindo

Você deve ter reparado que todos esses comportamentos são pautados em um medo do fracasso ou da falta de reconhecimento individual.

Conforme as empresas vão mudando o foco para o coletivo e para o resultado final, não apenas no resultado individual, essas atitudes vão sumindo e as empresas passam a cultivar e reter os melhores talentos coletivos.

Se você está em um lugar que ainda não percebeu essa mudança, compartilhe esse podcast com seu time e com o seu gestor. Mostre para eles que pensar no todo sempre vai ser melhor do que resultados individuais.

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